O amor não é para o teu bico.


― Amiga, me escuta. O problema não é ele, não, nunca foi. O problema sou eu. Ele tá lá na dele, quietinho, inocente sem saber de nada. Eu que fico aqui montando todo esse romance e fantasiando cada conversa que a gente troca.

Eu sou o romance puro, amiga. Você me conhece, você sabe. Eu sou tanto amor que não posso ver uma pessoa bonita no trem que já penso em casar com ela. Puta-que-o-pariu!, o que será que tá acontecendo? Não posso mais ir ao mercado e ver na fila do caixa um cara alto, barbudo e bonito que já vejo como pai dos meus filhos. 

Ein, amiga, me escuta! Não posso ir a praia e dar de cara com um moreno tatuado da barba por fazer e alto que já fico namorando com os olhos. Que-quê-cê-me-diz-ein? Você que sempre fala que é a sabidona de tudo. Me diz agora! Me dá uma explicação pra isso! 

O que será que tá acontecendo comigo? Será que é carência ou que é aqueles filmes de romance que tá me atingindo tanto assim fazendo com que eu queira amar alguém? Dá até medo. Tá vendo, é por isso que me sinto culpada, amiga. Eu! Eu! Eu! Ele não. Eu não posso ver nada que já me iludo toda. Ele dá um ''oi'' e eu pergunto ''tudo bem?''. 

Eu vou alimentando a conversa e ele ainda me dá bola com aquele sorrisinho de canalha. Eu peço um abraço e ele dá dois. E eu tô começando a gostar dele, mas eu ainda nem falei nada. Claro, não vou dar em cima dele assim na cara de pau, né? E agora? O que será que tá acontecendo comigo pra viver criando essas fantasias para mim mesma?

Fernando Oliveira