Tudo bem. Pode entrar.
Só não repara a bagunça. Eu andei trocando umas certezas de lugar e dando prioridade a outras coisas. Tudo aqui dentro anda meio fora de ordem, eu sei. Devido a alguns moços que não souberam cuidar deste peito-albergue, e só vieram de passagem mais uma vez com falsas promessas de um amor infinito que nem eles mesmos sabiam sentir. E eu novamente terminei tendo que limpar toda a bagunça sozinha.
Mas tudo bem, a gente aprende que nem todos são o que dizem ser. A gente percebe que alguns só querem enxergar a superfície do oceano e temem saber de suas profundezas. O tempo traz consigo amadurecimento e a gente aprende a ter mais cautela nas nossas escolhas. E aquele antigo mergulho de cabeça nas águas do mar, agora é testado com os dois pés antes mesmo de entrar de corpo e alma. Evitamos mergulhos profundos em pessoas rasas. O medo se torna mais presente e aquela certeza do que queríamos ser, de quem queríamos ao nosso lado, torna-se cada vez mais distante.
Mas tudo bem. Pode entrar.
Só não se assuste com a quantidade de rapazes que já passaram por aqui. Carrego comigo umas dores e outros cacos de cada um que arrancou um pedaço de mim. Carrego comigo para lembrar-me do quanto posso suportar tudo isto, amando-me mais um pouco. A tristeza traz consigo eternos aprendizados.
Entra. Fica.
Ou vai embora se quiser. Já me acostumei com despedidas.
Não vou te prometer beijos infinitos ou presentes fofos de casal, e nem ouse me fazer promessas de uma eternidade, pois o amor é diário. Abro meu coração, minhas verdades, minhas cortinas, minhas pernas. E são tantas as portas que me perco nesta bagunça dentro do meu peito.
Mas um dia a gente aprende a dar valor ao que realmente importa. Antes de ser plural, a gente deveria aprender a ser singular. Carrego comigo um mundo de incertezas que não teria coragem de dividi-las com ninguém. Eu andei invertendo uns papéis na minha vida e tracei outras estradas em busca de algo novo. Pois se o amor for um lugar, eu quero aprender o idioma, sentir o clima, construir uma casa e fazer morada.
Entra no meu coração, mas só fique por vontade. E fique à vontade também. Só não repara a bagunça.
via: Diálogos de Boteco
via: Diálogos de Boteco