FAÇA SUAS MALAS, VÁ VIVER UM AMOR
Fulano vai viver em Londres, foi transferido pela empresa. Sério? Fantástico, manda parabéns.
Beltrana entrou no doutorado em Barcelona, embarca mês que vem. Que incrível, sempre achei que ela era mesmo brilhante.
Ciclano se apaixonou por uma colombiana, largou tudo, foi atrás dela em Bogotá. Como assim? Largou o trabalho? Gente, que louco.
É.
Inegavelmente trabalho sempre será a justificativa melhor aceita para fazer as malas. Estudos também não são condenados. Mas o amor… Ah, o amor não. Amor não coloca comida na mesa. Amor não engorda currículo. Amor não paga aluguel, nem assume os riscos de nada.
É verdade, o amor não dá garantias. E no dia em que der, desconfie. O amor é um risco em si. Mas ainda me parece que o maior risco do amor seja não vivê-lo e passar o resto da vida ruminando dúvidas a seu respeito.
Se à noite, quando se coloca a cabeça no travesseiro, o que vier à mente for isso… Vá. Vá sim. E “isso” pode ser um monte de coisas. Um monte de amores.
Pode ser um homem lindo de olhos claros que te espera do outro lado do oceano. Pode ser um feioso também, que te espere com o mesmo sorriso. Pode ser uma mulher de cabelos cacheados batendo na cintura. Pode ser uma prancha de surf. Pode ser um intensivão de yoga. Pode ser um voluntariado na África. Pode ser qualquer coisa nesse mundão de Deus, desde que essa coisa faça o coração bater mais forte e o peito inflar num suspiro demorado.
Não estou dizendo para jogar tudo pro alto e ir viver uma aventura. Estou dizendo para jogar algumas coisas pro alto e ir viver um amor. (e cá entre nós, não acho que haja aventura maior do que amar)
Arriscar por amor? Bom, num mundo onde deixar amores por trabalho seja natural, é mesmo de se esperar que não nos incentivem a arriscar a segurança em nome de sentimento. Sobretudo em tempos de alta do dólar, todos vão te querer quietinho na sua baia.
Mas eu sempre sou aquela amiga errada para consultar nessas horas. Porque tenho o hábito de vomitar expressões como VAI, EMBARCA, COMPRA LOGO, SE INSCREVE, ME LIGA DE LÁ. Ou será que sou a amiga certa?
Pegue a mala no armário. Coloque, antes das meias e dos sapatos, a consciência de que a responsabilidade é sua. Não espere que, ao fechá-la, você tenha a certeza de estar fazendo a coisa exata. Não dependa da aprovação alheia para fechar o cadeado. Essa parada é sua. Peça aceitação, não aval. E encare.
Amor é razão para embarcar. Ah, amigo, é sim. A melhor de todas. Tenha certeza de que é.
Beijão de quem embarca amanhã. De novo.