O idioma de outra fé.
A mim não interessa o caminho religioso que você resolveu trilhar.
Prefiro me ater ao bem que sua fé lhe motiva promover.
Se você não crê em Deus, mas tem zelo pelas questões humanas, vou caminhar ao seu lado. Vejo os malefícios da hipocrisia religiosa. Ando preferindo a companhia dos que cultivam as virtudes que dignificam o mundo.
As religiões são caminhos que deveriam nos levar a nós mesmos. Só assim podemos chegar ao conhecimento de Deus. O ser humano é o santuário de sua habitação. A vida espiritual se funde à busca por nós mesmos. Nos emaranhados do "eu" Deus está.
Tenho profundo respeito pelos que buscam verdadeiramente este encontro. Pelos que observam, por força da religião que praticam, a honestidade como princípio, a verdade como caminho, o respeito ao outro como regra inegociável.
Nunca me empolguei com esta história de que moramos num país cristão. O cristianismo só é válido quando penetra as consciências, quando não se presta à idiotização dos fiéis, quando implanta no povo a capacidade de experimentar o sagrado, sem abrir mão dos recursos da inteligência.
Nunca me empolguei com bancadas políticas que se dizem cristãs. Há honestos entre eles, mas o rótulo não é garantia de lisura, competência. Ele pode ser usado hipocritamente como mero instrumental eleitoreiro.
Homens e mulheres de bem. Independente de qual seja o altar onde rezam. É só o que precisamos. Pessoas regidas por valores irrenunciáveis à prevalência do bem comum. Que promovam a vida, que defendam os que não podem se defender, que se proponham a investir na educação de nossas crianças, livrando-as da maldição que nos condena ao jeitinho brasileiro, esta odiosa mania de fazer vista grossa aos pequenos delitos que praticamos, este abominável costume de derramar perdão sobre a desonestidade que promovemos nos bastidores da vida.
Hoje revisitei a mística de Mevlana, homem que viveu no século XIII, e que se tornou referencial de busca pela paz.
Nele a religião tornou-se espiritualidade. Seu amor a Deus traduzia-se em amor ao ser humano. Fez uma revolução que ainda hoje repercute.
Padre Fábio de Melo